Alterações do Movimento

Somos seres humanos, somos animais, se movimentar faz parte de nossa natureza. Grande parte de nosso sistema nervoso é feito para planejar e realizar movimentos. E o movimento que fazemos é fundamental para nos trazer bem estar e saúde.

Mas existem muitos problemas que podem limitar nossos movimentos, desde consequências de problemas do parto, doenças genéticas ou mesmo outras doenças que se desenvolvam durante a vida. É assim, muito importante para nossa saúde, prevenir e tratar tais doenças, e ainda reabilitar para que mesmo com limitações possamos nos movimentar livremente.

Reabilitar a pessoa também pode não ser suficiente, muitas doenças deixam sintomas residuais ou sequelas permanentes, assim para uma pessoa que sofre de uma dificuldade de movimentar-se, muitas vezes é o ambiente a sua volta que mais limita o seu direito de agir no mundo. O nome disso é acessibilidade, façamos casas e ruas mais acessíveis!

Fraqueza

A força é o básico para o movimento existir. E que maravilhoso que nosso corpo é capaz de exercer força! E para termos essa força não é algo simples e fácil, mas algo que necessita de vários sistemas trabalhando em conjunto no sistema nervoso conectados com nossos músculos e estes em nossos ossos. Nosso corpo é um sistema mesmo incrível.

Por essa complexidade são inúmeras as formas deste sistema ter algum problema também. Um dificuldade de gerar força pode se originar em qualquer parte deste sistema. Desde o cérebro, a medula, os nervos, os músculos e tendões e até mesmo os ossos. Assim, as formas de sentir fraqueza são diversas e vários são os diagnósticos possíveis.

Há mais de um século a neurologia estuda e aprofunda conhecimento clínicos e aprimora o exame neurológico, para sabermos como funciona nossa força e como descobrir a causa das doenças que acometem nossos pacientes. Hoje praticamente todas as doenças que provocam perda de força já tem causa conhecida e um tratamento adequado.

Infelizmente, ainda não temos tratamentos que consigam reverter algumas causas de fraqueza, como o AVC. Mas sabemos por outro lado, muitos caminhos para se prevenir que AVCs aconteçam ou se repitam. Veja mais na sessão específica sobre AVC!

Além do AVC, Paralisia Cerebral, Esclerose múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, Miastenia Gravis, Polineuropatia, Mononeuropatias, Miopatias e Neuromielite óptica são exemplos de doenças neurológicas que podem afetar a nossa força.

Tremores

O mundo não para, nada está parador, tudo está em movimento. Nosso corpo está sempre vibrando e tremendo. Mas a olho nu quase sempre nem dá para perceber, até que por exemplo levemos um susto muito grande, quando ficar difícil se segurar e não se tremer todo.

Quando um carro está ligado, ele treme. Nosso corpo está sempre ligado, o tremor é consequência de micro movimentos dos nossos músculos para estarem prontos para funcionar quando solicitados. E existe em nosso cérebro centros de comando exclusivos para controlar estes tremores, e coordenar os nossos movimentos para que possamos ter graça e força com precisão.

Tremores que são consequências de estados mentais, como um grande susto, são transitórios e naturais. Mas tremores que independem disso, que limitam nossas atividades diárias ou nos trazem constrangimentos, podem ser sinais de alguma doença.

O Tremor Essencial é de longe a causa mais comum de tremor. Possui um substrato genético que se desenrola com o envelhecimento. Ele possui tratamento para aliviar o sintoma e orientações específicas de cuidados para amenizar sua progressão. Mas são muitas as outras doenças que podem evoluir com tremores, Doença de Parkinson, AVC e Esclerose Múltipla são exemplos.

Lentidão

Além da força existe várias qualidades que são necessárias ao bom movimento, como a velocidade e precisão. Existem grupos de neurônios em nosso sistema nervoso, que trabalham junto para planejar nossos movimentos e garantir que não só tenha a exata força necessária, mas que ela acontece no tempo e na maneira corretos.

Quando parte deste sistema tem algum problema, surge o problema de lentidão, que pode ser chamada de bradicinesia, e se acompanhar de sintomas como rigidez. Esta lentidão pode acometer desde a nossa capacidade de andar, até nossas expressões faciais.

A maior parte das doenças que trazem lentidão são mais comuns quando ficamos mais velhos, e muitas vezes são vistas pelas pessoas como se fossem consequência simples da idade. Mas pela neurologia existe a percepção de doenças que podem nos deixar mais lentos e tratamento eficazes para melhorar nossos movimentos.

A Doença de Parkinson, que muitas pessoas lembram apenas pelos tremores, é uma grande causa de movimentos lentos. Mas existem outras como Hidrocefalia e Pressão Normal, Parkinsonismo Vascular ou Esclerose Múltipla. A avaliação por um neurologista certamente trará um diagnóstico adequado e a indicação do melhor tratamento.

Movimentos Involuntários

Nossos movimentos são regidos por nossa vontade. Mas nada mais complicado que nossa vontade não é? Quando estamos saudáveis, quase sempre nossos movimentos brotam do nosso corpo naturalmente e nós nos sentimos parte deste movimento, eles estão em harmonia com nossos desejos e nos levam no caminho para realizá-los.

Quando alguma doença tira a harmonia do funcionamento dos neurônios que fazem essa difícil tarefa de integrar nossos movimentos ao nosso estado mental, podemos perder o controle da situação. E assim surgem movimentos que não são os desejados, são os chamados movimentos involuntários.

Eles podem ser de diversos tipos, que a neurologia estuda para compreender suas causas, como distonias, balismos, hemibalismos, coreias ou mesmo tremores (discutidos em sessão a parte). Não conseguir movimentar pode ainda ser uma consequência de doenças que afetam este sistema, e pode ainda acontecer da pessoa ter movimentos aberrantes que a atrapalham muito mas terem dificuldade de sentir que aquele movimento inadequado é um problema. Nossa mente possui mesmo muitos mistérios.

Movimentos involuntários podem também se relacionar a doenças mentais, ou do desenvolvimento, como as estereotipias do autismo ou da esquizofrenia, e muitas vezes mais de medicações neurolépticas.

AVC, Cãibra do escrivão, Coreia de Huntington, Esclerose Múltipla, Lesão talâmica de cetoacidose diabética, são outros exemplos de doenças neurológicas que causam movimentos involuntários.

Outras Dificuldades

Além da capacidade de executar o movimento com a força necessária, sem tremores, em tempo adequado, e sem outros movimentos indesejados, existem ainda várias outras funções em nosso sistema nervoso para que possamos realizar os movimentos de forma adequada.

O nosso cérebro, acoplado a sistemas de movimento na medula espinhal, é responsável por planejar nossos movimentos. Mesmo que nós não tenhamos a percepção que estamos planejando tudo que estamos fazendo, o nosso sistema nervoso está lá a fazer isso por nós. Não precisamos pensar que primeiro se pega a xícara, depois se põe o café, depois se checa a temperatura e enfim se bebe, mas nosso cérebro faz tudo isso sem que essas ideias venham à nossa consciência, que neste momento poderá estar ocupada com alguma paixão.

Mas muitas doenças podem afetar esta capacidade de organizar os movimentos de forma planejada, fazendo com que a pessoa se torne “atrapalhada” ou mesmo incapaz de fazer ações simples como abotoar uma camisa. E de forma muito comum não consegue explicar o porquê disto estar acontecendo.

Estes sintomas podem inclusiva acometer a capacidade de falar ou mover os olhos.

Doenças neurodegenerativas como degeneração corticobasal, lesões cerebrais como por AVC, neoplasias ou esclerose múltipla; até mesmo enxaqueca ou transtornos da saúde mental, são exemplos de problemas que podem causar dificuldades na realização de movimentos e necessitam de avaliação neurológica para diagnóstico e tratamento adequados.

Fadiga

Nosso corpo possui limitações, e mesmo que possamos executar os movimentos com perfeição, em certo momento do exercício experimentamos a sensação de fadiga, ou cansaço.

O que se sente exatamente pode ser várias coisas, uma falta de ar, uma tontura, escurecimento na visão, tremores nos músculos, fraqueza, indisposição mental, dor, etc. E cada forma de expressão da fadiga já pode dar pistar qual o problema.

São inúmeras as doenças neurológicas que podem trazer uma fadiga mais intensa do que a esperada, desde doenças auto imunes como miastenia gravis e esclerose múltipla, a doenças genéticas como a deficiência congênita de miofosforilase.

Outras doenças clínicas, como artrose, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, anemia, hipotiroidismo, etc, podem ser também a causa do sintoma, e muitas vezes precisam ser descartadas com avaliação minuciosa.

Textos por Hugo Salomão

Fontes/Leitura Recomendada:

  • CONTINUUM (MINNEAP MINN) 2022 Movement Disorders
  • CONTINUUM (MINNEAP MINN) 2022 Muscle and Neuromuscular Junction Disorders
  • De Renzi, Ennio, and Pietro Faglioni. “Apraxia.” Handbook of clinical and experimental neuropsychology. Psychology press, 2020. 421-440.