Muitas pessoas sofrem de dor de cabeça, tendo vários prejuízos na vida social ou no trabalho, mas já estão tão habituadas à dor que acham normal e não imaginam que podem viver sem ela. Muitas vezes cresceram com mães ou pais que também têm dores de cabeças fortes e sempre trataram em casa sem procurar o médico, e assim chegam na vida adulta achando que é “normal” sentir dor de cabeça com frequência.

Se a sua rotina de auto cuidados não é suficiente para impedir que a sua dor de cabeça não te incomode, procure um neurologista que certamente ele terá muito a te ajudar!

Cefaleia tensional; Migrânea, ou enxaqueca, com e sem aura; Cefaleias trigêmino autonômicas, como salvas, hemicrania paroxística, hemicrania contínua, SUNCT ou SUNA; Neuralgia do trigêmeo; entre outras, são exemplos de diagnósticos de dores de cabeça pelas quais muitas pessoas sofrem sem saber que existe tratamento.

Mas às vezes dores de cabeça podem representar risco de vida, nos casos a seguir, não hesite em procurar ajuda médica: dor muito forte iniciada rapidamente, relação com esforço intenso, lesão na cabeça ou posição do pescoço, alteração de força, sensibilidade, coordenação, visual ou outra sensitiva, ou crise convulsiva; Piora ao deitar; Rigidez na nuca ou Febre; Início após os 50 anos de idade; Possui outras doenças como reumatismo, lúpus, câncer, tuberculose, HIV, etc; é a pior dor de cabeça da vida ou tem mudança no padrão da dor de cabeça.

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Migrânea ou Enxaqueca

A migrânea, conhecida popularmente como enxaqueca, é uma doença determinada pela genética da pessoa, e é comum estar presente em outras pessoas da família. Ela ocorre na forma de crises, que geralmente são precipitadas por eventos chamados gatilhos. 

Os gatilhos podem ser alimentos, como chocolate, queijo, enlatados, frituras, ou até mesmo algumas frutas. Ou podem ser situações, tais como passar muito tempo sem comer, dormir mal, tomar muito sol, menstruação, estar desidratado entre outros.

Os gatilhos são diversos, mas cada pessoa possui os seus.

Os sintomas de uma crise de migrânea vão muito além da dor de cabeça, podendo começar até dois ou três dias antes com bocejos, urinando várias vezes, irritabilidade, desatenção, esquecimentos, alterações nos sentidos, entre outros. Quando está perto de iniciar a dor, algumas pessoas sofrem sintomas neurológicos mais intensos, como alterações na visão, audição, equilíbrio ou até mesmo na fala, que se chama aura. Há, então, a fase de dor, que costuma ser intensa e incapacitante. E mesmo depois que passa a dor alguns destes outros sintomas podem continuar.

O diagnóstico da migrânea é feito a partir de critérios definidos pela International Headache Society, e necessita de avaliação neurológica para descartar outras causas.

Existem vários tratamentos, com medicações e outras medidas, que são bastante eficazes para alívio e prevenção das crises. Eles são escolhidos de acordo com o perfil de cada paciente em consulta. 

Dor de cabeça não é normal, migrânea tem tratamento.

Cefaleia Tensional

Se há uma dor de cabeça que todo mundo pode ter em algum momento da vida, esta é a cefaleia tensional. Diferente de outros tipos de dores de cabeça que necessitam de outras condições estruturais ou genéticas diferenciadas, a cefaleia tensional vai depender mais de situações desencadeantes, como estresse, sono irregular, humor ou hábitos de vida.

Ainda não se sabe exatamente como ela acontece com detalhes, provavelmente por possuir um jeito diferente de acontecer em cada pessoa. Ela acontece por uma maior sensibilidade dolorosa na cabeça, geralmente acompanhada de maior tensão muscular nos músculos da cabeça ou do pescoço, que muitas vezes apresentam assim algum grau de inflamação.

Apesar de ela não depender de genética para acontecer, características genéticas podem facilitar que seja mais intensa ou que dure mais tempo.

É comum vir junto de outras dores de cabeça, como a migrânea, ou mesmo se sobrepor a condições como a cefaléia por uso excessivo de analgesia. Assim, em condições especiais, este pode ser um diagnóstico desafiador.

Para isso existem critérios bem definidos para seu diagnóstico, além de tratamentos mais intensos para quando ela se torna mais frequente a ponto de impactar a qualidade de vida. Isto faz com que a avaliação por um neurologista garanta o melhor diagnóstico e tratamento.

Cefaleia em Salvas e Outras Trigêmino autonômicas

A cefaleia em salvas é talvez a pior dor que o ser humano pode sentir. Ela acontece por fatores genéticos, como ser do sexo masculino e ter história na família, e ter influência de questões ambientais como clima e exposição a tabaco.

Tem a característica de serem dores muito intensas de duração de alguns minutos a poucas horas, em crises consecutivas dentro de um período de dias a poucas semanas. Sintomas no olho são muito comuns, como vermelhidão, inchaço, queda da pálpebra, lacrimejamento, e sintomas como secreção nasal entre outros que podem lembrar uma sinusite. Existem várias medidas e medicações, individualizadas, que podem ajudar no controle de cada crise e na prevenção das dores.

Existem ainda outros tipos de dores, que possuem algumas semelhanças mas também diferenças da cefaléia em salvas, como a hemicrania paroxística ou contínua, a SUNCT, a SUNA. Que definem um grupo chamado trigemino autonômicas.

Por serem relativamente raras, o diagnóstico requer boa experiência do médico. Assim, a avaliação por neurologista pode ser fundamental para o diagnóstico e tratamento mais adequados.

Neuralgia do Trigêmeo

Todas as dores que sentimos vêm de informações que os nervos trazem do corpo e da forma como são percebidas em nosso cérebro. Na cabeça temos vários nervos que levam ao cérebro informações que podem ser entendidas como dores, logo temos várias possibilidades de sintomas e doenças diferentes.

O trigêmeo é o nervo mais importante de sensibilidade da face, e pode acontecer de uma pequena artéria lá dentro da cabeça às vezes ficar tocando nele, deixando-o sensível. Nosso cérebro entende isso como um tipo de dor especial na face, ou mesmo na boca e dentes, que é a neuralgia do trigêmeo. Quando a neuralgia do trigêmeo é diagnosticada corretamente, existem medicações ou mesmo cirurgias que podem ser indicadas para controle dos sintomas.

Existem outras doenças que podem acometer o nervo trigêmeo, com sintomas diferentes, podendo ser chamadas de neuropatias do trigêmeo. Assim como podem acometer outros nervos, como o occipital, ou raízes de nervos cervicais, são inúmeras as possibilidades de neuropatias de nervos da cabeça. Mas que quando diagnosticadas permitem um tratamento mais eficaz.

A avaliação especializada é importantíssima não só para escolher as melhores medicações, mas para descartar doenças mais graves como tumores ou esclerose múltipla, por exemplo.

Pseudotumor Cerebral, Hipertensão Intracraniana Idiopática, Cefaleia pós Raqui e outros distúrbios de pressão de líquor

Ao redor do nosso cérebro e medula espinhal, circula um líquido muito especial que chamamos líquor. Ele ajuda a amortecer o cérebro de pancadas e a limpar as estruturas. Este líquido é produzido de um lado e absorvido em outro o tempo inteiro para estar sempre limpinho e na quantidade certa. Quando por algum motivo ele se acumula demais, ou esvazia demais, pode ocorrer dores de cabeça entre outros sintomas.

A causa mais comum de dor é por acúmulo, no que chamamos de hipertensão intracraniana. Esta pode acontecer por uma doença grave, como uma trombose venosa, mas quando os exames não definem uma outra doença causando, pode ser, pelos critérios da  International Headache Society, o chamamos de hipertensão intracraniana idiopática, que antigamente chamavam de pseudotumor cerebral.

Esta hipertensão idiopática acontece geralmente associada a obesidade e veias mais fininhas dentro da cabeça. Esta doença geralmente se acompanha de perda visual, por isto necessita de diagnóstico e tratamento o quanto antes para preservar a visão.

Há também casos em que a pressão de líquor está baixa, provocando dor de cabeça que piora ao ficar em pé, geralmente com outros sintomas como tontura, como acontece na dor de cabeça pós raquianestesia. Existem ainda outras doenças que fazem sintomas semelhantes, como as fístulas liquóricas ou a hipotensão intracraniana espontânea.

Definir que uma alteração na quantidade de líquor está causando dores de cabeça não é simples e pode envolver diversas doenças graves. Para tal a avaliação por neurologista pode ser fundamental para definir um diagnóstico preciso e o tratamento correto.

Aneurisma, trombose venosa, dissecção arterial e outras vasculares

Talvez você já tenha ouvido falar de alguém que morreu após sentir forte dor de cabeça. Sim, isso pode acontecer. Se você sente de forma súbita a pior dor de cabeça da vida, ou apresenta uma dor de cabeça totalmente nova, ou com outros sintomas neurológicos inéditos, é necessário procurar pronto atendimento médico,

A causa mais famosa de quadros graves assim é o aneurisma, que é como uma bolsinha que fica na parede de uma artéria. Ele geralmente não dói por conta própria, mas se romper provoca uma cefaleia intensa e grande risco de morte. A grande maioria dos aneurismas cerebrais, que muitas pessoas têm e nem sabem, nunca rompem nem provocam sintomas.

Mas é possível a partir das características do aneurisma prever o risco de romper e tratá-lo antes que o pior aconteça. Para saber quando fazer o exame para pesquisar aneurismas, ou quando tratar um aneurisma encontrado, é fundamental a avaliação por neurologista, neurocirurgião ou endovascular.

Outra doença não tão rara que provoca dor de cabeça grave e com alta letalidade, é a trombose venosa cerebral, que acontece quando o sangue coagula no interior de uma veia, represando o sangue que fica preso, provocando sangramentos e infartos cerebrais. Assim como o aneurisma, a trombose pode ser detectada e tratada com segurança.

Há ainda a dissecção arterial, a síndrome de vasoconstrição cerebral reversível, vasculites e até doenças genéticas que podem provocar dores de cabeça com maior gravidade. É importante saber, se sentiu alguma dor de cabeça, a avaliação neurológica ajudará a conhecer de onde ela vem e por que está acontecendo, isso te garantirá o melhor tratamento e te deixará mais seguro. 

Outras Dores de Cabeça

São muitas mesmo as formas e causas de cefaleia. Mas para praticamente todas elas existe um diagnóstico e tratamentos. A dor é algo que só quem sente sabe, e muitas vezes é angustiante sofrer de uma dor que ninguém ao seu redor consegue entender, o que costuma gerar vários constrangimentos no trabalho e no dia a dia.

Vários tipos de dores de cabeça acontecem devido a um outro problema de saúde, como anemia, hipotiroidismo, ou mesmo meningite e até tumores na cabeça. Mas vários outros acontecem por alterações no funcionamento do cérebro ou dos nervos, e não costumam aparecer em exames, sendo o diagnóstico dependente da avaliação cuidadosa, preferencialmente por neurologista.

Há inúmeros tipos de cefaleia, algumas bem estranhas até, que podem ter formato de moeda, ou acontece quando está frio, quando se faz atividade física ou sexual. Pode ser como facadas na cabeça, peso, água escorrendo, choque ou até uma sensação de cabeça explodindo, entre outras.

Mas sim, para praticamente todas elas há um diagnóstico e um tratamento, toda dor é um sinal que algo está acontecendo no corpo e necessita de cuidado!

Textos por Hugo Salomão

Fontes / Leitura Recomendada: 

  • https://ichd-3.org/
  • CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology, Headache; April 2024, Vol.30, No.2; Guest Editor: Amy Gelfand, MD; Editor-in-Chief: LYELL K. JONES, JR, MD, FAAN; ISSN: 1080-2371; Online ISSN: 1538-6899
  • Probyn K, Bowers H, Mistry D On behalf of the CHESS team., et alNon-pharmacological self-management for people living with migraine or tension-type headache: a systematic review including analysis of intervention componentsBMJ Open 2017;7:e016670. doi: 10.1136/bmjopen-2017-016670
  • Wang, Shuu-Jiun. (2021). Spontaneous Intracranial Hypotension. CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology, 27, 746-766. 
  • Thurtell, Matthew & MBBS, MSc. (2019). Idiopathic Intracranial Hypertension. CONTINUUM: Lifelong Learning in Neurology, 25, 1289-1309.
  • Imagem: Case courtesy of Ammar Haouimi, Radiopaedia.org. From the case rID: 77728